domingo, abril 30, 2006
quinta-feira, abril 27, 2006
ouves?
vi e conheço o ardor mudo
o caminho lento
o som nocturno infinitamente perdido
é a tua voz
ouves?
é a voz
que caminha por entre escombros
do teu corpo
enquanto sobes as escadas em ruínas
da torre do teu templo
na tua casa morada
não te deites
não me deito ainda
ouve-me
a luz acesa do teu silêncio mordaz
cobre-me
aflige
sufocas a vida
e susténs os órgãos que não respiram
reféns de um grito
um grito que a jarra estilhaça
abandonando o cravo a gerbera
abandonando o lírio que a sustenta
de tudo o resto
é a fome que me acerca, um rio azul
ou o desespero alucinante de tanto que não esperava
ouvir
a tua voz
ouves?
o olhar das mãos sobre nós
pairando sombra
pássaro levedando num coração assombroso que parte
e reconhecendo
o rumor o vento
ardência do ar que reflui
adentro
numa voz perdida num eco em mim
numa voz acesa à procura de deus
numa boca pequena
mundana gemendo fria
Sandro William Junqueira
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27.4.06
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quarta-feira, abril 26, 2006
pedido
a sede do infinito em planície
gretou-me os lábios
secou-me a boca e a língua
o trilhar guloso dos carreiros
entre sobreiros e cores
fatigou-me o corpo
dá-me meio púcaro de barro
de vinho branco fresquinho
dá-me regaço e berço embala
dono pulsar do teu sangue
no palpitar do teu peito
e se eu adormecer
acorda-me com frutos silvestres
um segredo e um beijo de teus lábios
daniel,neste espaço
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26.4.06
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terça-feira, abril 25, 2006
Os cravos e a neblina
Também eu sonhei com cravos a ornamentar os olhos,
os capacetes e os canos das espigardas.
Trémula era então a luz a luz dos dias, onde a seiva, de súbito,
fermentava, de súbito explodia.
também eu sonhei com cravos e o silêncio, nas ruas da alegria.
Também eu sonhei com o 25 de Abril,
e com os seus dias coroadaos de um ébrio triunfo.
A poesia estava nas ruas, nas canções de Zeca Afonso,
nos murais de Vieira da Silva, nos poetas de Sophia de Mello Breyner,
ou nas jornadas inéditas de vida, liberdade e luta.
Era tudo novo, as gentes, as cores, os partidos.
Gostava dos dias assim, da sua frescura turbulenta,
mas por vezes perigosa, quase explosiva.
Mas eram ainda dias cheios de cravos, fulgor.
Uma nova realidade entalava-se.
Podia-se fazer tudo, pôr em prática teorias, sonhos,
experimentar as fórmulas, no passado reprimidas.
E as tentativas sucederam-se, os golpes, os contragolpes.
Com eles vieram os desvios, os tumultos, os excessos,
e as canções desvirtuaram-se.
Nas ruas, à deriva, andavam as canções da utopia,
entre cravos já murchos, cobertos de neblinas gastas.
São assim as utopias, nascem, crescem, desenvolvem-se.
Depois gastam-se, desfazem-se,
deixando, atrás de si uma aura de triunfo, magia, descoberta,
e uma mecânica fantástica, que se desenvolve
e floresce ainda, dentro de nossos olhos.
Delas restam os cravos, os cheiros e a intensidade das cores.
Maria do Sameiro Barroso
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25.4.06
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As Cartas da Kraiene
Apetecia-me ver-te.
Olhar-te clamamente e falar-te de tudo e de nada, falar só por falar.
Apetecia-me contar-te calmamente a minha ânsia de infinito.
Apetecia-me dizer-te que vou quebrar as grades desta prisão.
Apetecia-me usar uma linguagem desconhecida para te poder contar que voltei a sonhar
e a ser triste.
Apetecia-me poder contar-te os meus maiores desejos e anseios.
Queria contar-te a frieza a minha paixão e calor da minha condição.
Queria poder contar-te a frieza das minhas noites sombrias e o calor das minhas insónias.
Mas acordei tarde nada vou fazer, apenas escrever esta carta na esperança que a recebas.
Kraiene ( Filha última de cronos, deusa das deusas feita mulher, ela vem das profundezas so tempo para nos falar de Amor)
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25.4.06
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segunda-feira, abril 24, 2006
Cartas II
Desde do dia em que partiste os dias são diferentes, o mar já não é o mesmo e aqueles pássaros (lembras-te?) já não pousam naquela velha árvore. Talvez tudo tenha mudado assim como nós mudamos.
Queria que soubesses que a cidade permanece distante e que a padaria continua a abrir à mesma hora. Também gostaria que soubesses que ainda sonho com “ O Trovador ".
Perdoa-me se puderes, mas queimei todas aquelas cartas e todas as fotografias que denunciavam o nosso amor.
Neste momento escuto atentamente aquela música que fala da nossa loucura, talvez tudo isso não faça mais sentido.
Desde do dia em que partiste os dias são tão diferentes, o mar já não é o mesmo e aquele cafezinho de esquina fechou.
Desde do dia em que partiste os dias são diferentes e o mar já não é o mesmo e eu comecei a lembrar-me de mim.
Kraiene
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24.4.06
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Cartas III
Foi naquele Outono em que a rua que tão bem conhecíamos estava coberta de folhas douradas, tu chegaste e aprisionaste-me a alma. Mas eu ripostei saindo do ponto cruz em que até então havia vivido. E exorcizei todos aqueles fantasmas que em mim bailavam em negros prantos, refugiando-me na velha cidade cor-de-rosa. Nessa velha cidade, que tu desconheces é certo, mas que eu finalmente encontrei. Ou melhor , voltei a ela. Sim foi um retorno àquilo que sempre soube saber.
De ti nada sei, apenas que vagueias por aí.
De mim sei apenas que vivo nesta cidade cor-de-rosa.
Mas foi então que me apeteceu vaguear por aí, por sítios onde nunca passamos, por ruas onde nunca nos amamos e por recantos que ficaram aquém do nosso desejo.
Apeteceu-me vaguear por aí, percorrer os olhares perdidos, os beijos nunca sentidos.
Apeteceu-me vaguear por aí, vaguear só por vaguear e expurgar as velhas memórias que ainda habitam em mim.
E foi assim que dei por mim frente ao fado que tracei.
E de volta á minha cidade, aquela onde nunca chove, aquela em que as pessoas têm alma cor-de-rosa , e que tu desconheces é certo.
Kraiene
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24.4.06
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domingo, abril 23, 2006
Carta VI
Meu amor,
Incomoda-me esta tua presença sempre ausente.
Incomoda-me este teu silêncio sempre distante.
Nesta ausência vazia de ti, tento relembrar o teu nome e já não sei. Tento sentir o teu rosto, o teu olhar, mas já se perderam.
Nesta tua ausência o mundo afigura-se -me sem estrelas e sem qualquer esperança.
Todos os pensamentos me conduzem ao amor que te tenho, então exorcizo-o rasgando e deitando fora todas as lembranças que ainda me restam.
Por vezes a angústia que preenche o vazio do teu lugar é maior que o espaço que deixas ficar. É hoje que parto para longe. Escrevo-te esta carta para te dizer que vou partir. Não choro a dor da minha perda. A dor da perda de um amor só se chora uma vez. E as lágrimas choradas perderam-se na imensidão das interrogações que povoam as nossas vidas.
Mas quero que saibas que mesmo que eu parta de ti, mesmo que partas de mim, será sempre
uma falsa partida.
Sempre que parto levo-te comigo onde quer que vá, sempre que partes levas-me contigo.
Tu permaneces em mim.
Agora parto em paz comigo, contigo e com o mundo.
Parto num dia de sol, num mês em que tudo vai começar a morrer para um dia voltar a nascer - quem sabe?
Escrevo-te esta carta, meu amor, para te dizer que de nada vale a pena insistir no que acabou por deixar de existir. Parto agora levando todos os filhos do nosso amor.
Kraiene
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Carta VIII
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sábado, abril 22, 2006
sexta-feira, abril 21, 2006
Carta IX
Havia pensado ou, melhor, decidido, não vou mais amar-te, não vou mais desejar-te,
não vou mais querer saber de ti, das tuas alegrias ou das tuas dores.
Tudo isto é loucura!
Havia pensado é certo, como se se pudesse decidir assim esta verdade como uma outra verdade qualquer, como se se pudesse decidir a quem amar, a quem desejar, a quem tudo se quer dar.
O sol aquecia, estávamos em pleno verão. O mar estava calmo e muito azul. E na minha memória tu persistias em permanecer. Eu gostava dessa persistência.
Mas a minha alma quis saber quem és, quis saber quem sou. Disso nada descobri.
Então qual noite quente e sem qualquer tempestade ouvi os teus passos.
Mais que à verdade do dizer-te eu amo-te, eu quero-te, existe a verdade do receio das palavras quem comprometem. Há sempre tanta coisa que fica por proferir que chego a esquecer, talvez seja melhor assim, esquecer, simplesmente esquecer.
Das saudades que sinto de ti e de mim e dos sabores desse país longínquo apenas espero um outro dia igual a hoje.
Um outro dia para continuar a amar-te.
Kraiene
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21.4.06
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Carta X
A minha condição de ser só é infinita.
Não basta o "eu amo-te " ou o " eu penso em ti "
para me desprender daquilo que
infinitamente sei saber. Posso momentanemente esquecê-la...
Quando me beijas,
quando me amas.
mas subjaz sempre tudo aquilo
a que não posso fugir.
Neste momento penso em ti
e no amor que te tenho.
E sei, meu amor.
que se estivesse agora nos teus braços
seria a única forma de minimizar
a dor desta condição.
Kraiene
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quinta-feira, abril 20, 2006
quarta-feira, abril 19, 2006
Carta XI
Em noites como esta apetecia-me rasgar toda a velha condição. Mudar
de roupa sair para o mundo. Assumir quem sou e o que sou. GritarPara onde vamos?!
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19.4.06
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terça-feira, abril 18, 2006
Carta XII
Lembras-te do tempo em que os relógios não existiam e o sino da torre da igreja
era único indicador de que existia tempo? Um tempo que denunciava e anunciava cada badalada. E que nós desconhecíamos.
Naquele lugar longínquo, mesmo no centro da velha cidade, longínquo o resto do mundo, o tempo não existia.
Tal como agora, na noite sempre igual a todas as noites, o tempo passa sem passar. E eu tento recordar-me do tempo em que tudo isso se passou.
Por isso peço-te, meu amor, fala-me do tempo em que não havia tempo, apenas eu e tu. Fala-me do nosso mundo e da nossa vida. Fala-me do nosso amor e da falta que me faz esse amor. Fala-me na tua língua e faz-me entender o porquê das coisas. Fala-me da distância que nos mantém separados e aprisionados. Diz-me que me procuras tal como te procuro em todos os estranhos que um dia julguei ter amado.
Kraiene
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18.4.06
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nada de ti...
nada sei de ti .
nada sei do corpo que te suporta.
nem das rugas leves que fendem
esse chão de letícia delongada.
nem dos dedos outros
que sustêm, ao de leve,
o perspirar dos teus poros,
nada sei dos movimentos incertos
dos teus braços
que não envolvem mais
do que o vazio
ou o corpo inerte que
ocupa esse lugar vazio
pela noite segura.
nem dos lábios ocultos
no rúbido húmido espelho,
a adiar o beijo e outros encontros
de velada ternura
nada sei da tua tristeza.
nem da forma como
olhas o ermo
nem do jogo que
evitas pelos dias subidos.
nada sei do talhe que trilha,
em silêncio,
essa luz rasa
luz da melancolia
no teu rosto.
José Alberto Quaresma In "Em Cena"
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domingo, abril 16, 2006
o banho
De um pote de barro
cai, tépido e continuo, um jorro de água
O corpo de mulher que o aceita
defende-se em contracção de pele franca e desnuda.
Gráceis, as pálpebras cerram-se.
As feições vincam-se em breves traços doridos
Juntam-se os seios em recolhimento
As longas pernas
querem guardar o segredo que as torna únicas.
O jorro continua
e a pose defensiva vai perdendo a lucidez.
Ciente da bondade da água
deixou de estar em guarda o feminil corpo.
Os olhos vão regressando à luz
As feições retornam à lassidão inicial.
Retornam os seios à pose hospitaleira
e as pernas vão deixando de se comprimir
como paredes inexpugnáveis.
Vai obliquando o pote, cada vez mais leve.
Embora mais pesado o sintam as mãos
que o sustentam.
A visão do corpo que se banha
toma a luz sóbria dos ritos perenes.
Calmo, completamente calmo.
Quente, completamente quente.
O corpo que sob a água se vai dissolvendo.
E o jorro cristalino continua
com o estoicismo próprio de quem deseja.
De novo descem as pálpebras:
desta feita com lentidões de langor e núpcias.
Os seios ganham firmeza de estátua realista.
Mostram agora, as pernas,
o mundo que até aí mantiveram cativo.
Esvairam-se as últimas gotas do pote de barro
Revigorados, os braços que o sustentavam pousam-no.
Do corpo que se banha erguem-se as mãos,
depois os braços.
A boca por último.
O banho terminou.
Mário Máximo
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16.4.06
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quarta-feira, abril 12, 2006
Assim presente tão subitamente...
Contigo aprendi coisas tão simples como
a forma de convívio com o meu cabelo ralo
e a diversa cor que há nos olhos das pessoas
Só tu me acompanhaste súbitos momentos
quando tudo ruía ao meu redor
e me sentia só e no cabo do mundo
Contigo fui cruel no dia a dia
mais que mulher tu és já a minha única viúva
Não posso dar-te mais do te dou
este molhado olhar de homem que morre
e se comove ao ver-te assim presente tão subitamente
Ruy Belo
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12.4.06
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terça-feira, abril 11, 2006
segunda-feira, abril 10, 2006
O poeta pede ao seu amor que lhe escreva
Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso, com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.
O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhece a sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.
Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de mordiscos e açucenas.
Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.
Frederico Garcia Lorca
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10.4.06
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Noche de amor insonme
Noche arriba
los dos con luna llena,
yo me puse a llorar y tú reías.
Tu desdén era un dios, las penas mías
momentos y palomas en cadenas.
Noche abajo
los dos. Cristal de pena,
llorabas tú por hondas lejanías
sobre tu débil corazón de arena.
La aurora
nos unió sobre la cama,
las bocas puestas sobre el chorro helado
de una sangre sin fin que se derrama.
Y el sol
entró por el balcón cerrado
y el coral de la vida abrió su rama
sobre mi corazón amortajado.
Frederico Garcia Lorca
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Homenagem a Garcia Lorca
Em teu “Romancero Gitano”
aprendi passos de dança
pinhos verdes que se enlaçam
rosas do ventre saídas.
Aprendi sangue moreno
vestindo bordado fino
o corpo de monja nua
em noites de lua cheia.
Às Portas de Guadalquivir
“Torres Heredia “ morreu
morrendo de ti, morte vida
Ai Frederico, adivinhada morte.
Em tua vida de luta
aprendi passos de vida
papoilas que se entrelaçam
força de dentro saída
Aprendi o “ Canto Fundo “
vindo do fundo de ti
“ Bodas de Sangue” inspiradas
em bodas que não tiveste.
Teu sangue , Manto bordado
na morte feito poema:
Por “ Viva la Vida “ morreste.
Ai Frederico, a tua morte é vida.
Ai Frederico!
Poema Glória Maria Marreiros e Foto João Parassu
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domingo, abril 09, 2006
Quando a hamonia chega..
Escrevo na madrugada as últimas palavras deste livro: e tenho o
coração tranquilo, sei que alegria se reconstrói e continua.
acordam pouco a pouco os construtores terrenos, gente que desperta
no rumos das casas, forças surgindo da terra inesgotável, crianças que passam ao ar livre gargalhando. Como um rio lento irrevogável, a
humanidade está na rua.
E a harmonia que se desprende dos seus olhos densos ao encontro da
luz, parece de repente uma ave de fogo.
Carlos Oliveira, in Terra de Harmonia
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