S
ão oito horas de uma primavera adiada. As andorinhas esvoaçam comoseres loucos que procuram algo que não encontram.
Também eu gostaria de ser andorinha e voar de país em país sempre à
procura de algo que nunca encontraria, é certo.
Mas esta nostalgia que me habita, que faz de mim a contradição que sou,
que me faz ter saudades de ti e de mim, que me preenche nas horas
vazias de sentido, que me diz tudo aquilo que sou e tudo aquilo que
não sou, não passa de uma ilusão. Algo que criamos apenas porque não
queremos destruir.
E então qual andrógino bipartido, semi-habitado, dotado de semi- perfeiçao
e de tudo quanto desconhece.
Lembro-me de ti tal como me lembro de mim, como se viéssemos até mim
projectados no écran de uma memória esquecida.
Olho o céu semi-azul de uma Primavera adiada. E recordo tudo aquilo
que não vivemos, tudo aquilo que necessita de tempo.
Vagueio então pelos recantos que sabemos existir, mas que ficamos sempre
à margem.
Um dia a Primavera chegará mais cedo ou então simplesmente não
chegará. E eu continuarei aqui sentada a olhar o céu e a escrever mais
algumas cartas que um dia receberás.
Kraiene
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