domingo, abril 23, 2006

Carta VI


Meu amor,

Incomoda-me esta tua presença sempre ausente.
Incomoda-me este teu silêncio sempre distante.
Nesta ausência vazia de ti, tento relembrar o teu nome e já não sei. Tento sentir o teu rosto, o teu olhar, mas já se perderam.
Nesta tua ausência o mundo afigura-se -me sem estrelas e sem qualquer esperança.

Todos os pensamentos me conduzem ao amor que te tenho, então exorcizo-o rasgando e
deitando fora todas as lembranças que ainda me restam.
Por vezes a angústia que preenche o vazio do teu lugar é maior que o espaço que deixas ficar.
É hoje que parto para longe.
Escrevo-te esta carta para te dizer que vou partir.
Não choro a dor da minha perda. A dor da perda de um amor só se chora uma vez. E as lágrimas choradas perderam-se na imensidão das interrogações que povoam as nossas vidas.

Mas quero que saibas que mesmo que eu parta de ti, mesmo que partas de mim, será sempre
uma falsa partida.
Sempre que parto levo-te comigo onde quer que vá, sempre que partes levas-me contigo.
Tu permaneces em mim.
Agora parto em paz comigo, contigo e com o mundo.
Parto num dia de sol, num mês em que tudo vai começar a morrer para um dia voltar a nascer -
quem sabe?


Escrevo-te esta carta, meu amor, para te dizer que de nada vale a pena insistir no que acabou
por deixar de existir.
Parto agora levando todos os filhos do nosso amor.

Kraiene



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