quinta-feira, abril 27, 2006

ouves?


vi e conheço o ardor mudo
o caminho lento
o som nocturno infinitamente perdido
é a tua voz
ouves?
é a voz
que caminha por entre escombros
do teu corpo
enquanto sobes as escadas em ruínas
da torre do teu templo
na tua casa morada
não te deites
não me deito ainda
ouve-me
a luz acesa do teu silêncio mordaz
cobre-me
aflige
sufocas a vida
e susténs os órgãos que não respiram
reféns de um grito
um grito que a jarra estilhaça
abandonando o cravo a gerbera
abandonando o lírio que a sustenta
de tudo o resto
é a fome que me acerca, um rio azul
ou o desespero alucinante de tanto que não esperava
ouvir
a tua voz
ouves?
o olhar das mãos sobre nós
pairando sombra
pássaro levedando num coração assombroso que parte
e reconhecendo
o rumor o vento
ardência do ar que reflui
adentro
numa voz perdida num eco em mim
numa voz acesa à procura de deus
numa boca pequena
mundana gemendo fria

Sandro William Junqueira

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