segunda-feira, julho 31, 2006

contemplo-te

a sul

em azul céu
de mar

helios
deslumbrante

fogoso

irmão de lua
e
de aurora

contemplo-te

raio por raio
girassol
arco-irís
chama de ouro
que me arde a
alma


sol
helios

contemplo-te

no embarque
em taça dourada
viagem crepuscular.
Ailéh


Foto: F. Monteiro

domingo, julho 30, 2006

ecoa o silêncio
no ondular
das vagas

ir e voltar?

o caminho de retorno
é vário
suspende-se
no respirar
profundo
de uma nova

brisa .


Ailéh

sexta-feira, julho 28, 2006

sobre a mesa

Sobre a mesa
a brancura do papel
aguarda a escrita

Não é ainda
silêncio
que as palavras
definem

é um campo apenas
lavrado pelo exílio
uma superfície inerte
ou talvez nada

O poeta
coloca aí as sementes
e o estrume

espera o milagre
das primeiras chuvas

Luís Serrano in Casas Presentidas

sexta-feira, julho 21, 2006

os calceteiros

Escrevem na rua:
juntam
cuidadosamente
palavras.

pegam-lhes
sílaba a sílaba
escolhem, unem,
completam,
tocam
ao de leve por cima
e continuam.

Com o maço
e o suor
assinam.

António Osório

segunda-feira, julho 17, 2006

...

... colhi os seus seios numa ceifa líquida, Abri-os
com a lâmina do verso. Vi-os derramarem os mares amarelos,
fazerem crescer as marés sequiosas de lua, sugarem a luz
das grandes constelações de inverno.Desenhei com eles a figura
do mar: o dorso de Peixe das suas imagens, asas secas
de uma alegoria. Talvez me ensinem
um rumo dos estuários....

Nuno Júdice

quarta-feira, julho 12, 2006

não te dispas e solta-me os dedos
permissão e doação que te
desperte
entorpeça
alerte
desaperte
desça em deslize
suba contra represas
nua sim
não porque te despiste
sim porque te desnudei
nua enfim

daniel,neste espaço


Dispo o vestido que não uso,
mostrando as cicatrizes que resiste
ao tempo que deixou de ser tempo.
E tu, tocando em silêncio o passado,
gritas com tuas mãos o agora.

O'sanji,neste espaço


foto.Yuri B.

sexta-feira, julho 07, 2006

silêncio

O silêncio sobe
da pedra
morno
sobe ao horizonte

nada
perturba o tacto dos dedos
A brisa da nossa noite
avança dócil
uma vaga de choupos submerge-a
perfume de goivos
o rolar doce dos turbilhões

aqui construimos para o riso
a morada e nós
nós partiremos a par
de uma fuga de luz
no horizonte


Mohammed Bennis

quinta-feira, julho 06, 2006

julho

O verão
prossegue.
A exuberância
aproxima-se
do meteorito
lento
das águas
do verão.

Maria do Sameiro Barroso in Rósea Litania

terça-feira, julho 04, 2006

reflexos

olho-te pelo reflexo
do vidro
e o coração da noite
e o meu desejo de ti
são lágrimas por dentro,
tão doídas e fundas
que se não fosse:
o tempo de viver;

e a gente em social desencontrado;
e se tivesse a força;
e a janela ao meu lado
fosse alta e oportuna,
invadia de amor o teu reflexo

e em estilhaços de vidro
mergulhava em ti.

Ana Luísa Amaral In Anos 90 e Agora

foto: Graça