De um pote de barro
cai, tépido e continuo, um jorro de água
O corpo de mulher que o aceita
defende-se em contracção de pele franca e desnuda.
Gráceis, as pálpebras cerram-se.
As feições vincam-se em breves traços doridos
Juntam-se os seios em recolhimento
As longas pernas
querem guardar o segredo que as torna únicas.
O jorro continua
e a pose defensiva vai perdendo a lucidez.
Ciente da bondade da água
deixou de estar em guarda o feminil corpo.
Os olhos vão regressando à luz
As feições retornam à lassidão inicial.
Retornam os seios à pose hospitaleira
e as pernas vão deixando de se comprimir
como paredes inexpugnáveis.
Vai obliquando o pote, cada vez mais leve.
Embora mais pesado o sintam as mãos
que o sustentam.
A visão do corpo que se banha
toma a luz sóbria dos ritos perenes.
Calmo, completamente calmo.
Quente, completamente quente.
O corpo que sob a água se vai dissolvendo.
E o jorro cristalino continua
com o estoicismo próprio de quem deseja.
De novo descem as pálpebras:
desta feita com lentidões de langor e núpcias.
Os seios ganham firmeza de estátua realista.
Mostram agora, as pernas,
o mundo que até aí mantiveram cativo.
Esvairam-se as últimas gotas do pote de barro
Revigorados, os braços que o sustentavam pousam-no.
Do corpo que se banha erguem-se as mãos,
depois os braços.
A boca por último.
O banho terminou.
Mário Máximo
1 comentário:
Um banho quente entre(as)linhas...
Regressei.
daniel
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