terça-feira, abril 18, 2006

nada de ti...

nada sei de ti .


nada sei do corpo que te suporta.

nem das rugas leves que fendem

esse chão de letícia delongada.

nem dos dedos outros

que sustêm, ao de leve,

o perspirar dos teus poros,

nada sei dos movimentos incertos

dos teus braços

que não envolvem mais

do que o vazio

ou o corpo inerte que

ocupa esse lugar vazio

pela noite segura.

nem dos lábios ocultos

no rúbido húmido espelho,

a adiar o beijo e outros encontros

de velada ternura

nada sei da tua tristeza.

nem da forma como

olhas o ermo

nem do jogo que

evitas pelos dias subidos.

nada sei do talhe que trilha,

em silêncio,

essa luz rasa

luz da melancolia

no teu rosto.


José Alberto Quaresma In "Em Cena"

2 comentários:

Unknown disse...

Pois é... Pouco ou nada sabemos do outro... nem mesmo daquele que julgamos conhecer muito bem.
Beijo.
daniel

Anónimo disse...

Muitas vezes temos a sensação de conhecer algumas pessoas da vida toda..e outras; de nunca ter conhecido de verdade alguem que está em nós para a vida inteira.
Parabéns por este poem...tão certo!
João JR