segunda-feira, outubro 03, 2005

Espelho

Sou prata e exacto. eu não prejulgo.



o que vejo engulo de imediato


Tal qual é, sem me embaçar de amor ou desgosto


Não sou cruel, tão somente voraz-


O olho de um deusinho, de quatro cantos.


O tempo todo reflito sobre a parede em frente.


É rosa, com manchas. Fitei-a tanto


Que a sinto parte do meu coração. Mas vacila


Faces e escuridão insistem em nos separar.



Agora sou lago. Uma mulher se inclina para mim,


Buscando em domínios meus o que realmente é.


Mas logo se volta para aqueles farsantes, o lustro e a lua.


Vejo as suas costas e as reflito fielmente.


Ela me paga em choro, e agitação de mãos.


Sou importante para ela . Ela vai e vem.


A cada manhã sua face reveza com a escuridão.


Em mim afogou uma menina, e em mim uma velha


salta sobre ela dia após dia como um peixe horrendo.



Silvia Plath

1 comentário:

António Simões ,Augusto Mota e Gabriela Rocha Martins disse...

A velha salta e pula e salta e pula

salta velha maldita!



...e a velha saltou do poema...

( partiu a tíbia )