terça-feira, fevereiro 27, 2007

Leve,breve o beijo

Teimoso subi
ao cimo de mim
e no alto rasguei`
as voltas que dei

Sombra de mil sóis em glória
cobrem todo o vale ao fundo
dorme meu pequeno mundo

como um barco vazio
p'las margens do rio
desce denso o véu lilás
desce em silêncio e paz
manso e macio

Deixa que te leve
assim tão leve
Leve e que te beije meu anjo triste
deixo-te o meu canto canção tão breve
brando como tu amor pediste

Não fales calei
assim fiqui
Sombra de mil sóis cansados
crescenco como dedos finos
a embalar os nossos destinos

Deixa-te que te leve
assim tão leve
leve e que beije meu anjo triste
deixo-te o meu canto canção tão breve
brando como tu amor pediste.

autor desconhecido

sábado, fevereiro 17, 2007

Procurei.te
no fundo, mais fundo, do teu olhar

Cruzamo-nos
por segundos

Segurei.te a mão
senti a intensidade
da tua pele
e
guardei.a no mais íntimo de mim

Esse foi o nosso
último olhar.


Ailéh



domingo, fevereiro 04, 2007

O poema no espaço branco

Escrevo no espaço branco da página sem sair nunca dele
embora escreva para sair do espaço branco.
Tu recebes os meus poemas ou dizes que recebes os meus poemas
mas na verdade não podes receber. Nunca saio do espaço branco
da página. O que escrevo não tem nenhum rumo para além
do que escrevo no espaço branco da página, o que escrevo é o que escrevo
e no que escrevo se resolve. Os poemas que te envio
não saem deste espaço e se aparentemente chegam às tuas mãos
é o outro lado ilusório deste círculo
que nunca pude romper.
O que tu lês já não é o que escrevi
no élan de uma liberdade que não posso compreender.
Só no espaço branco da página
as palavras que escrevo correspondem ao silêncio que
me leva a escrevê-las.Dentro desse espaço
o poema que escrevo retoma ao seu centro
à sua ausência à única realidade irrevogável.
Tu sentes no poema que recebes a sua respiração
e através dele recrias o poema que só
no espaço branco da página
é o poema de si mesmo, irrevogável e nu.
O poema que escrevo nesta página
talvez seja a primeira ilusão
que se materializa e se afirma
no silêncio da noite em que
se gera o poema.

António Ramos Rosa